17 novembro 2006

Chegou a hora

30.09.2006
A Sarah nasceu no dia 22 de agosto às 13he35minutos no Hospital Nossa Semnhora da Conceição em Porto Alegre, pesando 3,435kg e medindo 50cm.Esse parto foi difícil e meio tumultuado.O que aconteceu eu vou contar agora.
Eu comecei a sentir as contrações desordenadamente na Quinta-feira dia 17 de agosto e começaram a ficar mais frequente no Sábado e na Segunda- feira já estava de 5 em cinco minutos, sendo que no dia 17 mesmo eu fui ao hospital fazer uma avaliação e como eu só estava com 1cm de dilatação, tive que voltar pra casa e esperar.Bom na Segunda- feira dia 21, de manhã voltei no hospital e a dilatação estava em 2cm e me mandaram de volta pra casa, mas as contrações foram ficando muito fortes e de noite eu já não aguentava mais e aí à 1h da madrugada fomos para o hospital só que aqui perto de casa e lá me examinaram (aqueles exames de toque horríveis que parece que estão tratando de vacas) e eu ainda estava com 2cm. Voltei pra casa novamente, só que não aguentei, pois a dor já estava de 3em3min e eu não conseguia dormir.
A dor era tão forte e desesperadora, que eu não imaginava que seria assim, pelo menos comigo foi de querer morrer.
O Edson então resolveu me levar novamente ao hospital, aquele primeiro e lá me enfiaram os dedos de novo e constataram que eu continuava com 2cm, sendo que os médicos disseram que depois de começar a dilatar, cada hora é 1cm a mais, mas isso não aconteceu e mesmo assim insistiam em não querer me dar atenção, mas o Edson disse que dali eu não iria sair e que alguém tomasse uma providência e o médico (médico principiante é claro, estagiário, borra- bosta detesto estes estudantes que querem ser grandes coisas) com ar de debochado perguntou porque que naquele exato momento eu não estava sentindo dor, como se a gente precisasse gritar pra sentir dor, mas mesmo assim ele foi falar com seu superior e o mesmo decidiu me internar.
Fui internada as 02h ou 02h30min, não sei ao certo e me levaram pra fazer lavagem intestinal e limpeza genital, depois tive que tomar banho e ficar passeando na sala de preparação para o parto onde tinha mais umas seis mulheres, para que fosse dilatando e para que eu fosse mais vezes ao banheiro, para limpar bem os intestinos. Lá pelas tantas me mandaram deitar para colocar o soro de indução e fiquei lá deitada louca de dor, só que a dor foi aumentando muito, era uma dor que começava nas costas, mas não era uma simples dor e sim uma queimação, era como se alguém enfiasse as mãos nas minhas costas e rasgasse com as unhas a parte lombar, aquilo se propagava pra frente por dentro da barriga e finalizava com uma cólica menstrual muito forte. Essa dor era de 1 em 1 minuto com uma pausa só pra respirar e tomar o fôlego. Comecei a gemer baixinho e as 5h da manhã romperam minha bolça – o médico (estagiário) chegou lá com uma comadre e um negócio que parecia uma agulha de tricô, me esfuracou e saiu uma barbaridade de água quente. Dizem que fizeram isso pra ver se dilatava, porque até aquele momento só tinha dilatado mais 2cm, aí piorou tudo, comecei a gritar feito uma égua, e olha que eu não sou de fazer escândalos, pois tenho vergonha de me espor, mas não deu pra suportar. Colocaram o map (uma máquininha de monitoramento dos movimentos e do coração do bebê) e fiquei lá berrando até umas 10h30min da manhã, foi quando resolveram me levar pra sala de cirurgia pra aplicar a analgesia pra ver se eu me acalmava, pois acho que ninguém mais me aguentava. O problema é que hospital público é um desaforo, pois eles deveriam Ter notado que havia alguma coisa errada, pois todas as mulheres que tinham entrado comigo já tinham ganhado seus filhos, só eu fiquei lá, junto de outras que iam chegando e que também já iam saindo.
Com a analgesia fiquei tranqüila, sem dor, é uma anestesia na espinha, quase a mesma da cesariana. Fiquei ali sendo monitorada, o bebê também e sentindo ela se mexer dentro de mim, sentindo todo seu corpo, pernas e braços, porque como eu já estava sem liquido, dava pra perceber intensamente seus movimentos, pois já não era mais uma barriga redonda e sim, uma barriga cheia de calombos.
Bom, lá pelas 12h30min o monitoramento do bebê começou a ficar estranho e eu comecei a sentir ela empurrando o meu estômago pra sair e quando apareceu um médico comentei o fato e ele me examinou e chamou outros médicos que me examinaram também, até que vi eles comentarem que o bebê estava muito alto e eu não tinha espaço no nascedouro, meus ossos eram muito estreitos e então resolveram fazer a cesariana e quando eu estava entrando na sala de cirurgia vi uma médica comentar com a outra, que o bebê havia entrado em sofrimento e que deveria ser feito a cesaria rapidamente.
O que me deixou triste nesta história toda, é que fiz um pré natal completo, sem espaço na carteira de gestante, de tão perfeito que era, com todos os exames feitos e sem problema nenhum, pra acontecer de minha filha sofrer dentro de mim, porque os médicos me deixaram esperar tanto, por falta de dilatação, pois no final das contas a dilatação empacou nos 6cm e dali não saiu desde a hora que me deram a analgesia.
Fico triste em saber que quando se fala em sistema único de saúde existe uma diferença de tratamento e que os médicos são capazes até de deixar mãe e filho morrer, quando a coisa não envolve dinheiro...

...a cesaria pra mim foi tranqüila, assim como pra todo mundo, acredito eu. Quando a Sarah nasceu, não me deixaram vê-la de imediato, levaram pra outra sala e depois de 15min, trouxeram. Infelizmente devido a incompetência de alguns hospitais, minha filha sofreu bastante e nasceu roxa, não chorou e teve que ser reanimada, o apgar foi 5 no 1º minuto. Depois ela foi levada a UTI neonatal e ficou recebendo oxigênio pela campana na incubadora, além de medicação.
Eu recebi alta em três dias e ela ainda teve que permanecer no hospital mais cinco dias. Durante o tempo em que fiquei internada, tinha que ir até o berçário de três em três horas para amamentar minha pequena. No começo foi difícil, na verdade o tempo em que estive no hospital e depois quando tive que ir até o hospital foi difícil, cansativo, depressivo e sofredor, porque pra ajudar tive rachadura nos seios e nos primeiros dias não tive muito leite e a Sarah teve que estimular, mas quando ela mamou a primeira vez também foi difícil e triste pra mim assim como todos os momentos em que estive lá, naquele lugar onde nunca mais pretendo voltar para uma situação feito a que vivenciei. A Sarah não sabia sugar e quando tentava, ficava roxa por causa da dificuldade respiratória ocasionada pelo parto e pela lesão no músculo cardíaco que ela tem. Quase surtei quando três enfermeiras tiveram que ajudar ela a sugar, só que as queridas não raciocinaram e forçaram ela até ela arroxar e perder o ar. Tiveram que colocar oxigênio e ali vi minha filha endurecer e revirar os olhos como se fosse morrer. Aí aquelas queridas perceberam que não tava legal e fizeram aspiração nasal ( porque se ela não conseguia mamar é porque ela não conseguia respirar). A partir dalí tive medo que ela ficasse roxa toda vez na hora da amamentação. E toda vez era complicado porque ela não queria o peito, nós duas não nos acertávamos, ainda mais naquele caos total, no meio de enfermeiras me cobrando, exigindo que eu amamentasse e exigindo que ela se alimentasse. Esse tipo de situação só me deixava mais nervosa e deprimida.
Com o tempo ela foi melhorando e fomos nos acertando e enquanto eu estava ainda no hospital, era chamada a cada duas ou três horas pelas enfermeiras da neo natal para comparecer lá para amamentar. Ela se acostumou com o peito, mas eu comecei a sofrer pelas rachaduras que doíam demais, era como se alguém colocasse um cigarro aceso na ponta do meu mamilo. Eu batia os pés e chorava de dor e o que me diziam era que eu tinha que fazer banho de luz no seio (passar o próprio leite materno e expor o seio ao sol ou lâmpada) como se isso adiantasse depois que já estava adiantado, pois deveriam Ter me orientado antes. Sofri naquele hospital, principalmente de madrugada que eu estava sozinha e tinha que caminhar toda dolorida, encurvada devido a cirurgia, pelos corredores solitários até o berçário. Sofri porque acredito que por ser hospital público o tratamento seja diferente. Ter que levantar sozinha da cama, tomar banho, ir no banheiro, se vestir e tudo mais sem ajuda de ninguém, pra mim foi terrível porque estar com a barriga cortada não é nada bom e nada fácil. Além de estar sendo examinada o tempo todo, aperta aqui e ali, soro na veia, remédios que queimavam o braço quando aquele líquido era injetado com toda "delicadeza" do mundo pela aquelas éguas.
Depois que ganhei alta sofri muito em Ter que deixar minha princesa ali na mão daqueles médicos examinando todos os dias ela, furando, espetando... mas era pro bem, o que fazer? Torcer para que tudo isso acabasse logo.
Todos os dias, o Edson e eu saíamos de casa as 07h da manhã pra se dirigir até o hospital, saíamos de lá das 20h à 00h. Lá ficávamos numa sala, sala de amamentação, onde tinha umas poltronas, somente. Passávamos lá o dia inteiro, só saíamos pra almoçar. Graças a Deus o Edson esteve ao meu lado o tempo inteiro, pois está desempregado, pois me ajudou a superar todas minhas dificuldades, porque muitas vezes chorei sem motivo, talvez por estresse de estar alí, por não Ter informação sobre o que estava acontecendo ou o que iria acontecer. Nervosismo quando se fazia pergunta aos médicos e não se obtinha respostas. Mas tudo isso acabou quando a Sarah recebeu alta, mal consegui vesti-la e naquele dia não pude amamentá-la no hospital o dia inteiro, deixei por conta das enfermeiras, pois meus seios estavam totalmente detonados e eu sofri muito por causa disso. A Sarah recebeu alta no dia 29 de agosto e chegamos em casa às 19h.

Começou então a nova vida, com a presença da Sarah em casa, porque quando se tem um bebê nada volta a ser como antes não é verdade?
Como eu tinha aquele frágil bebê que passou por maus momentos, fiz de tudo para tratá-lo como um cristal, só faltou colocá-lo numa redoma de vidro. No início ela começou a dormir no carrinho ao lado da minha cama mas como as noites eram muito frias e ela começou a sentir cólicas e se sentia aquecida no colo, passou a dormir na minha cama no meio do pai e da mãe. Só temi e temo que ela acostume com isso e não queira mais sair de perto de nós, mas o que acontece é que não poderia deixar ela no carrinho se ela se sentia protegida perto de mim. Fazer o quê, mas com o tempo ela aprende e depois dos três meses que é a fase das cólicas, eu, aos poucos vou deixando ela no berço, pois eu também vou ter que aprender a lidar com ela longe dos meus braços, ou futuramente mãe e filha vão sofrer, até mesmo para uma formação pessoal dela. Não dá pra deixar ser muito dependente, tem que se virar.

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